Marching Band*

Uma história de Cygnus / Laundry Service #7

As caixinhas de som do seu computador de mesa estavam perto de estourar por conta do volume no máximo. A cadeira de rodinhas estava com as costas reclinadas quase em posição horizontal. Sua cabeça pendia, os cabelos ao vento vindo da janela aberta em frente. Os olhos fechados e os pés sobre a mesa, em frente ao monitor. Nos lábios, um leve sorriso. A tranqüilidade de uma tarde ensolarada de verão, sozinho em casa.

A batida da música ecoava pelo quarto, as portas fechadas. A cadeira balançava a cada empurrão que Jaimie dava de leve na mesa, acompanhando o ritmo. Ele murmurava a letra entre os lábios de vez em quando, preguiçoso até para abrir toda a boca e cantá-la. Ele a sabia de memória, claro. Uma das suas favoritas desde sempre.

De repente, ele sentiu o bolso da bermuda que usava vibrar. A peça de roupa era gasta e velha; ele só a usava sobre a proteção de seu teto. De jeito nenhum alguém poderia vê-lo com ela. Não condizia nem com sua personalidade, mas era refrescante o suficiente para ficar em casa e relaxar. Estava muito calor, afinal.

Ele correu a mão desajeitadamente até achar o celular. Assim que o tocou, ele parou de se mexer. Não era uma ligação, mas ele sentiu aquela pontada de nervosismo ao ver o remetente da mensagem que recebera. Seu conteúdo não era lá tão importante; só falava o horário do próximo ensaio de sua banda, dali a dois dias. Nada de mais.

A última frase, entretanto, lhe deixava com uma pontada de, ele podia admitir, esperança. “Chegue mais cedo”, ela pedia. Jaimie pensou em responder, mas se conteve e colocou o telefone sobre a mesa, tirando os pés do caminho. Suspirou para o computador, como se este pudesse ler seus pensamentos.

Ficou repetindo a mesma música até se cansar, coisa que não acontecia com freqüência. Foi abaixando o volume na medida em que o tempo ia passando, pra não despertar queixas por parte dos vizinhos. Mudou de posição, se deitou, levantou e se sentou de novo. A certa hora, teve de se contentar em fechar os olhos novamente e esperar que algo acontecesse. Estava morrendo de tédio.

Então seu telefone móvel vibrou outra vez sobre a mesa.

Jaimie levantou as sobrancelhas, mas não foi com toda a sede ao pote. Esperou. O celular continuou vibrando. Uma, duas, três vezes seguidas sem dar sinal de que ia parar. Uma ligação. Ele quase caiu da cadeira para alcançá-lo e colocá-lo na orelha e dizer um simples “oi”.

- Ocupado? – a voz do outro lado da linha perguntou. Jaimie balançou a cabeça, só depois respondendo verbalmente que não. – Recebeu minha mensagem mais cedo?

Jaimie abaixou mais o volume do computador, mas a música pareceu continuar. Só que não estava vindo do seu quarto.

- Você não respondeu, então liguei pra saber. – Rox disse, descontraído. Jaimie se desculpou, sem jeito. Ele queria muito acreditar que a ligação era mais que uma confirmação de uma mensagem ordinária como aquela. Então ele percebeu que a música estava cada vez mais alta. E estava vindo do alto-falante do aparelho.

- Você ta escutando essa música? – o mais novo perguntou, se ajeitando na cadeira. Rox resmungou alguma coisa e o som diminuiu. Ao fundo, ele ouviu a voz de outra pessoa. De outro homem. E respirou fundo antes de retomar a fala. – Rox?

- Ucker. Ele aumentou o volume. – Roxy mastigou alguma coisa e pareceu perceber o motivo da pergunta. – Você está ouvindo essa música. Também.

Também.

Rox sempre dissera que aquela música lhe lembrava o mais novo. Ele não tinha ligado pra falar da mensagem; ele sabia reconhecer aqueles pequenos sinais, final. Jaimie sorriu para si mesmo e abaixou a cabeça na mesa, ainda com o telefone grudado na orelha.

- Jaimie? – Rox perguntou depois de alguns minutos de silêncio. – Tá calor.

- Tá calor...

- Tem vodca gelada no estúdio. – Rox fungou. – E leite. E água. E um ventilador novo.

Jaimie riu. Um convite. – Acho que consigo chegar em meia hora.

- Sua mãe... ? – o mais velho começou.

- Deixo um bilhete. Ela só não vai gostar que eu chegue muito tarde, então...

- Te levo em casa.

E desligou depois de um “ok”. Jaimie olhou o relógio do celular ao finalizar a chamada e arregalou os olhos. A maior conversa que ele tivera com Roxy nos últimos meses, com certeza. Começou a trocar de roupa, com pressa. Apesar do calor, largou a bermuda na cama e vestiu a calça preta, ainda sorrindo.


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*Nota: Marching Band é o nome da música que Jaimie e Roxy estavam ouvindo. Ela é cantada pelo artista britânico Joe Brooks. Ouça.