Fevereiro de 2008, Londres

Olá para você, querido redator do City News;

Sim, isso foi um cumprimento, não um elogio. Pelo contrário, estou muito decepcionado com o senhor.

Sabe, sou jornalista. Faz algum tempo que me deram esse título. Não sei se fizeram bem ou mal, mas nem quero questionar - não agora, pelo menos. Eu sou jornalista, gosto e não tenho incertezas sobre disso, ao contrário do senhor, pelo que percebo.

Porque um jornalista toma o cuidado de checar sua ortografia, gramática, sintaxe e tudo o mais antes de passar pelo responsável pelo mídia - principalmente se você está apertado com os prazos e sabe que ninguém lerá coisa alguma. Mais importante, um bom jornalista tem suas fontes; ele chega esta e todas as outras existentes que encontrar só para se achar no direito de dizer que tem certeza.

Então, considerando os argumentos expostos, posso ter certeza de que o senhor não é isso que chamam de jornalista. Sinto se mentiram até agora...

Acho certo ter incertezas. É para isso que nascemos, não? Para descobrirmos as certezas do mundo e tudo o mais. Ou talvez nem seja por isso... Olha só, estou incerto sobre o assunto! Mas tenho absoluta certeza de que aqueles dois atores os quais o senhor reportou como traficantes na edição passada não estão nada incertos sobre o que fazer com a vossa pessoa. Um pequeno processo, acusação de calúnia, difamação, insulto moral...

Acho que sabe aonde estas reticências vão parar, certo? Ou incerto?

Não, não sou um fã. Também não sou parente. E o senhor pode se perguntar porque, diabos, então estou escrevendo. Oras, ainda existe gente nesse mundo que ama a profissão que escolheu ter. Não estive muito certo de como me expressar em relação ao seu pecado arruinador-de-carreiras, portanto estou exercendo meu humilde direito de leitor e enviando esta singela carta.

Espero que tenha um ótimo fim de semana.


Desestressando,


PS.: Não sei se o senhor notou, mas o "pozinho" ao qual o senhor se referiu em seu artigo na edição passada do jornal como sendo heroína era, na verdade, talco. Como estou tão certo? Bom, digamos que o exame para comprovar esta afirmação demorou mais que o esperado (talvez o DNA do talco seja difícil de decodificar, sabe-se lá...) e acabei perdendo meu vôo que, sim, era o mesmo dos dois protagonistas de sua história. Sorte a minha pegar um vôo com duas estrelas internacionais.

(Na verdade, estou incerto sobre isso também.)